sexta-feira, janeiro 26, 2007

Por que chegamos a esta situação

Chegada a pausa entre as duas (ditas duas, como veremos mais adiante) épocas de exame o Esgoto acha propício o momento para realizar um balanço do que até aqui se passou.

Após a saída da ordem das diferentes cadeiras na época de exames e de a termos visto pela primeira vez, qual o pensamento que cruzou a nossa cabeça? Provavelmente um: "Da-se! Vou ter que passar o ano novo a estudar...". Após esta primeira reacção no momento que se seguiu (momentos, ou melhor, dias) tentamos dissecar a melhor maneira de encaixar as cadeiras em tão pouco tempo. Duas épocas? Só se for em sonhos! Se tentarmos fazer tudo a primeira normalmente o resultado é ou chumbos ou notas rasteirinhas. Notas as quais alguns professores ainda tem a coragem de dizer que foi graças a sua boa vontade, que se não chumbou mais gente foi somente por causa do seu bom coração... Sinceramente! Eles estão a lidar com alguns dos melhores alunos do país (sim, porque nós temos que melhorar o nosso ego e tomar consciência do nosso valor). Somos um dos cursos com média mais alta do país e isso é um espelho das nossas capacidades!

Se existem cadeiras como Orgânica II, Física e Biologia Molecular onde passam meia dúzia de pessoas não é apenas por nossa culpa. Penso, inclusivamente, que a pauta de orgánica II merecia uma exposição no Esgoto para mostrar essa vergonha que, não é dos alunos, e sim do professor. Ele é que ou não consegue transmitir os conhecimentos aos alunos e falha na sua tarefa como magistrado, ou tem critérios incompreensiveis para avaliar a aprendizagem. Nada justifica esta reprovação em massa.

Finda a época normal muitos dos nossos colegas estão à espera que algumas das notas saiam para poder saber o que fazer da vida. Contudo os resultados teimam em não sair, permanecem no limbo. O tempo passa e os exames aproximam-se... A época de recurso começa segunda feira e ainda não sairam todas as notas da primeira fase, tendo sido o último exame realizado à uma semana... O que eles querem dizer com isso? Que nós podemos ter 4 ou menos dias para estudar e eles não podem corrigir os exames em uma semana? Cada um que cumpra com suas obrigações. Se for preciso que mudem o tipo de exame mas corrigam-nos a tempo.

Vamos recuar um pouco no tempo e vamos ver as bases do actual estado semeadas em algumas acções e medidas dos nosso dirigentes. Segue-se um breve flash-back dos últimos dois anos:

  1. Começaram por tirar Setembro e disseram que teriamos em troca disto frequências, trabalhos e, portanto, um menor peso, ou mesmo ausência, do exame final;
  2. Prometeram-nos duas épocas de exame, época normal seguida de época de recurso;
  3. O período de aulas foi alargado para tornar-se possível uma melhor organização do calendário académico;

Agora vamos analizar o que realmente aconteceu:

  1. Tiraram-nos Setembro mas frequências nem vê-las. Contam-se pelos dedos de meia mão os professores que aderiram as frequências. Alguns, talvez, pelo mais puro comodismo... "É demasiado trabalhoso"- deve ser o que eles pensam; outros estão demasiado ocupados nos laboratórios e esquecem-se que o papel primordial deles é ensinar... E os trabalhos? A maioria tem um valor tão pequeno que nem compensa o esforço e as horas que são despendidos na sua realização... E ainda corremos o risco de acontecer como o ano passado quando a professora de Bioestatística se lembrou de fazer cortes como uma louca nos trabalhos de quem ela desconfiava (sem provas) que tivessem copiado. Algumas das pessoas nem sequer se conheciam... Quando um professor se lembra de mandar um trabalho idêntico para todo um ano não pode esperar que as pessoas se fechem em casa, não conferenciem sobre os seus resultados com os colegas, principalmente em matématica, uma ciência exacta, onde a resposta certa, penso eu, não pode variar muito... Para completar a confusão ela ainda teve coragem de convocar uma reunião para discutir o caso! Cereja em cima do bolo... E o que é feito a esta professora? Como prémio é lhe dada uma segunda cadeira para leccionar!
  2. Duas épocas de exames? Sinceramente! Este ano vamos ter 5 semanas de épocas de exames e eles querem dizer que são duas épocas? Praticamente ninguem que eu conheça vai fazer tudo numa fase. Por que? Porque não é possível. Temos cerca de 5 cadeiras por semestre e se quisermos ter algum (pouco) à vontade e tempo para estudar temos irremediavelmente que dividir os exames pelas duas épocas. A ideia quando se tem 2 épocas de exames, ainda mais quando se chamam época normal e época de recurso, é ter-se duas oportunidades para passar a cadeira, o que não é o que acontece agora... Ou escolhe-se muito bem as datas e faz-se tudo a primeira ou tudo fica muito, muito complicado. O número de cadeiras deixadas para trás tende a crescer e as notas a baixar. E, como já foi referido, como podemos usufruir das duas época se, além de extremamente curtas, já estamos a porta da segunda época e ainda não sabemos se passamos ou não as cadeiras?
  3. Melhor organização?! O maior número de aulas foi usado por alguns professores para aumentar a matéria leccionada mas, como já vimos, com uma menor época de exames temos menos tempo para estudar, o que significa mais dificuldades... Quanto às aulas laboratoriais os professores deixaram todos, "inteligentemente", os exames e as apresentações para as duas semanas do fim. E digo "inteligentemente" porque algumas aulas laboratoriais já haviam acabado a algum tempo mas, ao invés de se realizarem logo os exames laboratoriais, os docentes deixaram ficar tudo para o fim e, com isso, alguns coleguinhas tiveram 2 exames no mesmo dia. E o que acontece com isso? Mais uma vez, a percentagem de sucesso baixa...

Não satisfeitos com todas estas medidas ainda diminuiram o prazo para a realização de melhorias. Ou seja, além de uma época de exames demasiado apertada, não vamos ter a hipótese, por si só remota na actual conjuntura, de melhorar as notas.... Qual será o problema que as melhorias lhe causavam? Ainda por cima são pagas... E já não falamos em melhorias apenas ao exame laboratorial... Apesar de possível experimentem ir pedir à um professor que lhe deixem repetir apenas aquela parte da avaliação e já veem o que acontece...

E perante todas estas medidas ridículas que tem tomado lugar o que nos temos feito? Nada... Temos aceitado tudo como se fosse normal. Não, não é. Aquela faculdade existe por nossa causa, não como emprego seguro e estável para tachistas e pseudocientistas (Desculpem-me os bons professores que não se enquadram nessas classes). Servir como centro de investigação é importante mas secundário...

Não podemos aceitar impavidamente o que tem sido feito. Estas mudanças não foram para melhor, antes pelo contrário, e não vieram servir, como deviam, os interesses dos alunos. O que vão conseguir ao manter as coisas como estão é que a taxa de reprovações suba e as médias baixem, mais alunos ficarão para trás e isto, numa faculdade já sobrelotada como a FFUP, pode ter consequências ainda piores.

Sei que estamos todos atrapalhados com os malditos exames agora mas este também é o momento em que, talvez, possamos ver mais claramente os efeitos do que tem sido feito. Espero que assim que está época acabe, ainda com os acontecimentos bem frescos, tenhamos coragem para tomar uma posição mais imperativa e para isso o Esgoto conta com a AEFFUP e sua capacidade mobilizadora e também com nossos representantes no Concelho Pedagógico.